sábado, 14 de junho de 2008

Biografia Escolar - O infantário

Muitas birras fiz eu, nos inconscientes dois anos, à porta do infantário. Aquela casa amarela. Lembro-me da casa amarela, guardada por um polícia. Coitado do polícia que aturava as minhas fitas à porta do estabelecimento escolar. E, obviamente, coitada da minha mãe que me, normalmente, levava à escola. Esses foram os momentos mais tristes da minha passagem, que ainda não conheceu término, no Colégio Moderno. Tristes, mas contentes. Não percebeu, leitor? Também me expliquei muito mal. Eram tristes ao entrar na casa amarela. Não sei, devia ser por causa do polícia. Não me apetece agora ir perguntar à minha mãe porque raio é que lá estava o agente da autoridade, em 1996 João Soares já era Presidente da Câmara? Sim, pronto, eram tristes ao entrar mas eram a minha felicidade quando me via lá dentro. Lembro-me de vários episódios nessa casa amarela. Vou-lhos contar, leitor. O quê? Não quer saber? Não tem nada a ver com historiazinhas de adolescentes que uma vez passaram por um jardim de infância? Tem razão leitor, não leia se não quiser. Ninguém o obriga. Mas, não sei porquê, ler não é só ler histórias de pessoas, género agentes secretos, que nós nunca seremos. Ler é também ler sobre pessoas como nós. Doutra forma não teria devorado recentemente quase todos os Adrian Mole, sobre um adolescente. Abençoada seja, Sue Townsend. Mas agora leitor que ainda me lê, vamos então aos episódios.

Nós costumávamos lanchar. Como todos os infantários, amarelos ou não, de decência. Normalmente era pão com manteiga e leite. Um dia os responsáveis do Colégio tiveram a infelicíssima ideia de juntar cavacas das Caldas da Rainha, com as quais eu estava bastante familiarizado – pelas minhas relações familiares com a terra – e pela pior maneira pois ainda hoje as odeio. O que aconteceu foi que eu, ainda que odiando o doce, as comi sofregamente, engasgando-me, ficando a dita cavaca presa na garganta. Não sei o que aconteceu a seguir. Só sei que continuo aqui, sem quaisquer marcas da passagem dessa cavaca. Alguém tratou de me desengasgar, certamente.

Da casa amarela, por acaso, não me estou a lembrar de nenhum outro episódio. Já agora, que raio de mania que eu arranjar em chamar o infantário de casa amarela. Mas a seguir veio outra casa. Uma casa maior. Não deixarei, no entanto, de relatar a minha vida na casa amarela sem mencionar a minha educadora. Penso que se chamava Céu. Não me recordo, mas de certeza que contribuiu para a minha educação. Nem que tenha sido ao recolher para a posterioridade os meus desenhos completamente abstractos.

Sem comentários: