quarta-feira, 16 de julho de 2008

Auto-Biografia Escolar 2 - Infantil

Na infantil já era diferente, meus amigos, já era famoso! Continuava a ir com o meu pai, que me vinha buscar à escola, comer castanhas - se estivéssemos na época própria - ou nêsperas. Agora a educadora chamava-se Maria João Paula - extremamente simpática e que ainda me cumprimenta se for o caso de me ver - e a interacção com as demais turmas aumentava. Os gémeos, o David, o Miguel, a Filipa, o Guilherme, a Leonor, a Sofia, o Nuno, o Duarte, a Teresa, o outro gajo que não me lembro do nome, a outra gaja que não me lembro do nome. A minha turma. Quando passámos para a turma dos cinco anos o meu nome mudou. O meu nome mudou, senhores! Chegou à turma um indivíduo da nossa idade que se chamava Manuel, também. Doravante, pouco tempo mais me chamariam Manel. Cardoso. O Cardoso e o Viegas. O Viegas, sim o do escritor. Perdoem-me. Malditos filhos dos escritores! Malditos escritores! Malditos sejam aqueles que alguma vez pegaram num papel, numa máquina de escrever ou num Microsoft Word e começaram a trabalhar num texto! Mas habituei-me a ser o Cardoso. Pensando bem, quanto horror assola este apelido! Manuel Cardoso? Ciclista, já ouvi até ser nome de um assassino. Desculpem lá, pais. Chega desta conversa.

Bendita seja a mesa que a minha avó materna me deu por volta dos meus três anos. Bendita seja também ela, por isso. Grande mesa essa, que tinha o alfabeto. Aprendi então, com a ajuda dessa mesa, a ler. Lembro-me perfeitamente quando lia para os meus colegas e quando, numa brincadeira das minhas predilectas – a reprodução do funcionamento de um restaurante, escrevia “Reservado”, a azul, num papel dobrado ao meio, para colocar em cima das mesas.