terça-feira, 8 de julho de 2008

Memórias do Homem Invisível

Elaborada num teste de expressão escrita de Língua Portuguesa deste ano lectivo que acabou, a 12 de Maio, este texto foi classificado com o nível de "Excelente", apesar de ter ultrapassado largamente o limite de vocábulos previamente acordado.

Estou preocupado. A população condena-me por aparecer pouco nas televisões. O meu nome é Isidoro Gouveia e sou ministro. Dos poucos ministros que as pessoas não reconhecem na rua. Ministro da Economia foi a pasta a mim adjudicada há três anos, depois das eleições ganhas por Octávio Ribeiro. Esse sim, um homem carismático! O povo ama-o! Um homem alto, com uns quilos a mais, cabelos grisalhos indicadores dos seus cinquenta e seis anos, olhos azuis, nariz pontiagudo. É um homem sério: popular mas não populista.

A população, como dizia, advoga a tese de que eu, Isidoro Gouveia, não faço nenhum. Logo há três anos, depois das eleições, os mais entendidos em política estranhavam e/ou desconheciam a minha cara. Era gestor de empresas. Não tinha nada a ver com políticas até há três anos. Tinha vivido quase toda a minha vida nos Estados Unidos da América, onde estudei Gestão e Marketing na Universidade de Harvard. E foi quando trabalhava como uma das figuras principais na gestão de uma grande multinacional que Octávio Ribeiro me sequestrou dentro de uma sala de um hotel em Boston para me propor o cargo:
- Dr. Gouveia – dizia ele numa altura em que não tínhamos intimidade -, tem de aceitar vir comigo! Portugal precisa de um economista como o senhor! E é um grande esforço financeiro que o estado faz para o manter!
- Vou pensar – declarei eu, num tom, confesso, arrogante e, sobretudo, mentiroso pois não iria pensar mais sobre essa questão: já tinha decidido aceitar.

Era realmente um grande esforço financeiro que a Administração fazia para me conseguir o meu contributo. Eu sou um homem empreendedor, decidido, e organizado e, com efeito, sem querer ser vaidoso, Portugal precisava e precisa da minha ajuda: com as campanhas feitas no estrangeiro o turismo cresceu; as fontes de energia renováveis foram desenvolvidas economicamente, entre outras “obras”. Sou também introvertido e comunico mal com as pessoas, coisa tão essencial num político. Paciência. Serei sempre o Homem Invisível.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fenomenal, acho prodigiosa a tua habilidade com as palavras.

ZeGui