terça-feira, 8 de julho de 2008

Enquanto há vida há esperança.

Escrever este texto, enviado para um concurso da Verbo, foi aventureiro. Soube da existência do concurso e fui visitar o site onde o mesmo estava descrito. Reparei que a idade limite para a participação no concurso era de 13 anos. Ora eu faria 14 anos no espaço de um mês. O concurso consistia em, a partir de um trecho de uma obra de autores editados pela Verbo (o trecho é exactamente a primeira frase do texto), elaborar uma história. Foi o que fiz em menos de três semanas (não é recorde, mas na altura também havia que estudar e fazer demais coisas). Não ganhei a raça do concurso.


Enquanto há vida há esperança.

Era uma vez uma linda e pobre camponesa que encontrou, próximo de um rio cristalino, um maravilhoso anel mágico.
- Dum vita est, spes est ? – com pronúncia de quem nunca havia lido nada em Latim, pelo menos do que se lembra, Raquel, de onze anos, questionava-se sobre o que acabava de ler nessa inscrição em baixo-relevo, na parte de dentro do anel.
De anéis, a pequena menina loira não percebia nada. Sua mãe mal tinha dinheiro para dar de comer à família, quanto mais para anéis? Na aldeia, apenas a Dona Lídia, mulher do Doutor Cerqueira, dono da pedreira, usava anéis, apetrechados de todo e qualquer material caro e extraordinariamente brilhante que a iluminasse até num dia de nevoeiro cerrado e de nuvens negras. Talvez por isso, Raquel pensara em devolver-lho, se ela reclamasse a pertença do anel. Entretanto, colocara o anel no dedo indicador, para transportá-lo. Dois segundos após essa acção, aparece, vindo inesperadamente do rio, um autocarro verde, do tamanho dos vulgares, do aspecto dos vulgares. De lá saiu uma senhora morena, olhos verdes, elegantíssima, com um vestido azul-escuro, parecia que estava arranjada para ir a um casamento, não iria com certeza vestida para conduzir um autocarro.
- Entra para o autocarro! – ordenou, como quem ordena no sentido que todos conhecemos do verbo. Foi uma ordem, não um pedido.
Raquel, embora estupefacta com todo o ocorrido, indagou o porquê da frieza da mulher:
- Porque é que estás a falar assim comigo? Calminha, se faz favor! Não fui eu que saltei do rio! Ah pois, se eu saltasse dessa forma do rio, já tinha apanhado da minha mãe, se ela tivesse visto!
- Sim, tens imensa graça. – ironizou a motorista – Agora mete-te no carro imediatamente, vou-te levar a um sítio fantástico, por isso não me faças mudar de ideias!
Perante isto, Raquel entra imediatamente no autocarro. Lá dentro, encontra um autocarro vazio.
- Porque é que não vem ninguém comigo? Isto está vazio!
- Isto vai vazio porque só tu podes saber que vieste nesta viagem e visitaste o nosso Universo, que ainda não tem humanos.
- E tu? És o quê?
- Eu sou um ser humano, mas dos poucos que lá há. – respondeu, com pouca paciência.
- Os outros são desumanos? Então não quero!
- Continuas com as tuas piadas… já te calavas, só dois minutos.
Raquel foi-se sentar e contou exactamente os cento e vinte segundos que estava indicada para não falar. Posto isto, continuou com o bombardeamento de perguntas:
- E tu, não pareces nada com os condutores de autocarro donde eu venho! São quase todos homens e se são mulheres são gordas e vestem-se com uns fatos todos feios! Tu não, és bonita e vestes-te bem!
- Obrigada, mas isso é preconceito, nem todas as condutoras de autocarro são feiosas.
- Era muito melhor que fossem todas como tu.
- Enquanto há vida, há esperança. – agora a condutora libertava-se um pouco da frieza que transportava antes.
- Pois é. – concluiu Raquel, a rir.
Passado um pouco Raquel olhou para a janela, ainda não o tinha feito desde o início da viagem, mas também, não tinha perdido nada, apenas via preto, só preto, parecia que a janela estava tapada com uma espécie de cartão dessa cor.
- Não se vê nada!
- Não há nada para ver. Isto é um caminho único, que vai dar ao nosso Universo.
- E falta muito?
- Estamos a chegar.
De facto, cinco minutos depois, o verde autocarro parou numa paragem suspensa no espaço, “parecia coisa de astronautas e isso do cosmos”, haveria de relatar Raquel, mais tarde.
- Salta cá para fora! – ordenou a motorista de olhos verdes. Após isto, Raquel saiu do longo veículo e, tenho quase a certeza, nunca ninguém lhe havia notado semblante tão pasmado senão naquele dia, a observar o que a rodeava.
- Chegámos ao nosso Universo. Ao Universo onde o ódio não existe. O Spes. – declara a condutora
- Spes? Já vi essa palavra em algum lado!
- Já verás onde. Mas agora diz-me, gostas ou não gostas?
- É mágico. É lindo.
- É mesmo mágico.
- Nunca vi nada assim. Nem, provavelmente, voltarei a ver. A ver este Universo maravilhoso, em que as casas, aliás, todos os edifícios são esféricos, esféricos, imagine--se! Toda esta gente maravilhosa, jamais os verei outra vez!
- Queres ir dar uma volta? – indagou a mulher.
- Claro que quero, é redundante perguntar isso! – explica, euforicamente, Raquel – Mas olha! Nunca me disseste o teu nome!
- Cylvy.
- Cylvy? Nome mais estúpido. Decerto que não se percebe nada a ler.
- Raquel Celestina é um espectáculo! – gozou Cylvy.
- Como é que sabes que eu me chamo Raquel Celestina? Para já, nunca te disse o meu nome, segundo, nunca te contaria o meu segundo nome!
- Nós sabemos tudo aqui. Vamos dar uma volta?
- Vamos.
Cylvy e Raquel passeam-se agora pelas ruas de Spes, um Universo bem longe do nosso, mais pequeno, mas, como Cylvy já havia dito, onde não há ódio. Raquel vai reparando em vários factores que justificam essa afirmação:
- Olha ali! Uma gata e um rato a casarem-se? Um lobo e uma ovelha a namorarem? Uma raposa e um galo em união de facto? E o que vejo eu? Um dirigente político e um popular da classe baixa amigos?
- É verdade, tem piada, mas é verdade. Estes dois foram dos poucos humanos que conseguimos trazer. Todos aqui são amigos, todos se dão bem. Aqui, como já disse, não há ódio, rancor, nada dessa espécie. Tudo é perdoável, mas pouco há para perdoar, pois não há pessoas más. A parte maldosa do cérebro humano não existe nos habitantes de Spes.
- E porque é que isso não acontece no nosso Mundo?
- No vosso mundo, que já foi o meu, existem imensas coisas que impedem que o ódio não exista: a concorrência entre os seres, a diferença de classes sociais, o desrespeito… A tua função é trazer as pessoas para este Universo, para que aprendam a não sentir ódio de nada nem de ninguém. Quando souberem bem isso, podem voltar ao seu Mundo, onde terão, assim, uma vida muito melhor para todos, pois canalizarão todos os meios para que o ódio não exista. – disse Cylvy.
- Isso é muito difícil! O Homem quer se sempre sobrepor aos demais!
- Lê a parte de trás do teu anel.
- Dum vita, spes est.
- Enquanto há vida, há esperança. Agora vai para o teu Mundo fazer o que te disse.
Assim, Raquel foi devolvida ao seu Mundo, o planeta Terra, onde teria uma missão.
Raquel acordou e apercebeu-se, sem surpresa, que o sono tinha-se apoderado de si e que tinha entrado na sua imaginação, só que, desta vez, levava uma lição aprendida e uma ideia para proliferar.

4 comentários:

Filipe G. Ramos disse...

uma escrita com futuro. promete.

Anónimo disse...

Um texto cheio de significado, como não falta nos do Cardoso. Muito bom, excepto a referência às diferenças sociais, com a qual não concordo, visto que para sempre existirão , porque o comunismo não funciona, como já foi provado.

ZeGui

Anónimo disse...

Muito obrigado aos dois pelos comentários.

Na minha opinião a história deste texto é péssima. Quase nem consigo olhar para este texto, palavra. Já foi feito há uns meses, é verdade, mas já não me identifico com algumas infantilidades aqui escritas, género estas frases grotescas "Aqui, como já disse, não há ódio, rancor, nada dessa espécie. Tudo é perdoável, mas pouco há para perdoar, pois não há pessoas más. A parte maldosa do cérebro humano não existe nos habitantes de Spes". Há umas coisas que gosto neste texto, talvez a maneira como o escrevi, mas as ideias apregoadas, são, como tu, Zé Gui, notaste, a cair para o infantil. Também não creio que tenha apregoado o possível, é uma espécie de história utópica.

Mas pronto, qualquer dia tenho de voltar a escrever neste blog.

Manuel Cardoso

Anónimo disse...

eu ja vi luzes estranhas nos ceus de santa catarina,eu acho que era um ovni porque a luz desceu perto de mim e eu senti uma sensacao estranha como se eu tivesse subindo para sima da luz mas meu pai viu.agora eu estou indo no piscologo para tentar esquecer aquilo ,tanbem ja vi mensagens nos computadores dizia:para lideres governadores politicos etodos os povos e pessoas da terra queremos que seja compriendido que no dia 14 dew outubro uma nave seria visiveu nos ceus da terra...... estara no hemisferio sul